Entrevista com Lucas, educador do ensino básico

Lucas, você se formou em pedagogia há 27 anos atrás. Obviamente, houve uma mudança drástica nos modos com que a humanidade lida com a informação e os meios pelo qual esta é veiculada. Você tem aplicado estes novos meios em suas aulas? Quais são os desafios relacionados à estas mudanças?

Lucas: Tem sido muito difícil aplicar essas mudanças na dinâmica de minhas aulas, pois a formação dos docentes ainda é pautada em modos tradicionais, sempre priorizando a lousa e o giz, por exemplo. Ainda assim, quando há algum tipo de formação relacionada a novas tecnologias, existe uma precariedade na estrutura, como a falta de materiais e equipamentos que, por relato dos meus alunos e com a pouca familiaridade com tais tecnologias, percebo que já estão obsoletos e acabam por aumentar o desinteresse da classe.

No caso de surgir uma demanda da própria coordenação da instituição de ensino em que trabalha para utilizar essas novas tecnologias e meios de comunicação eletrônicos para dinamizar suas aulas, como o senhor procede?

Lucas: A dificuldade decorre, principalmente, do fato que essas tecnologias não fazem parte do meu cotidiano. Não me é comum o uso desenfreado de celulares, computadores, Orkut e afins. Eu sou da época em que se mandava carta e telegrama! Eu tento fazer algo dinâmico com as tecnologias que meus alunos consideram atraentes e chamativos mas, se isso não soa natural para mim, como fazer para que a forma e o conteúdo estejam de acordo com a realidade da classe? É um desafio muito grande, me sinto bastante deslocado e desamparado.

E quanto a cursos para professores se atualizarem: o senhor já experimentou algum?

Lucas: Ah, eu tentei alguns. Em pouquíssimas oportunidades, consegui me entender com o Menu Iniciar e com aquele Internet Explorer (é assim que se chama?). Os cursos acham que a gente é jovem, que basta colocar um mouse na nossa mão e que -pluft- tudo vai se resolver. Não tenho mais 18 anos, sabe? Eu até cheguei a ter o auxílio de meus netos, mas eles sabem explicar muito bem para outros jovens e não para mim, que já passei do meio século. Sou interrompido por Lucas de supetão, ao que ele indica ter se lembrado de algo relevante.

Lucas: Eu participei de uma formação em uma ONG para capacitar educadores sobre Comunicação e Direitos Humanos. Foi bem bacana, eles tinham ciência de que éramos leigos no assunto e souberam como explicar para nós, idosos. Não me lembro do nome da instituição, infelizmente.

Me conte mais sobre essa formação: o que mais te chamou a atenção? Eles abordaram maneiras de usar a tecnologia sem se tornar algo repetitivo e fora de contexto para os alunos?

Lucas: Foi maravilhoso! Principalmente por terem utilizado exemplos atuais. Eles falaram muito de uma tal de “leitura crítica”, que era basicamente interpretar o que eles viam na tela (seja um vídeo qualquer da internet ou até uma reportagem polêmica de televisão) pra tentar entender o porquê de aquele vídeo ter sido gravado daquele jeito, ou o porquê de aquele entrevistador fazer aquela pergunta daquela maneira. Aliás, é impressionante como a TV engana a gente, né? Estou tentando me acostumar com a internet pra não ter que confiar sempre no que o Bonner fala, sabe.

Para encerrarmos nosso bate – papo, como o senhor aplicaria os conhecimentos adquiridos nessa formação em sua classe de aula?

Lucas: Pra começar, eu faria uma brincadeira de roda bem levinha, para deixar os jovens menos dispersos e, ao mesmo tempo, mais familiarizados uns com os outros. Na formação, chamaram isso de “dinâmica de acolhida“. Em seguida, passaria algum vídeo que pudesse introduzir o tema para, logo após isto, começar a provocalos com perguntas sobre o conteúdo apresentado até então. Tendo isso tudo feito, vem a parte prática: produzir algum vídeo, texto, fotos ou programa de rádio sobre o tema, porque a prática também é um bom modo de aprender, não é? No fim, todos apresentam suas produções e comentam para o grupo.