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Produção de Suportes Midiáticos

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Entre a pinça e o touch: como o livro didático fica nesse contato? (2)

Entrevista Livro Didático

O mundo da tecnologia e o papel da escola

A escola, como instituição dotada de poder formador, deve estar atenta aos avanços da sociedade contemporânea, principalmente em relação à tecnologia, e ter seu ensino direcionado para a construção da cidadania e para o pleno exercício da democracia. As tecnologias e os suportes midiáticos ampliam a comunicação utilizando-se fundamentalmente da linguagem (verbal e não verbal). Eles servem para a divulgação e a operacionalização do que entendemos como sendo um projeto pedagógico, que exigem o diálogo, a interação, o respeito a todos os envolvidos — principalmente em uma perspectiva baseada na educomunicação.
O ensino de qualidade deve buscar, através de projetos adequados, a inserção do aluno como cidadão crítico. Neste sentido, o uso de tecnologias pode favorecer esta meta, mas não podemos considerar que a ausência de tecnologia implique, necessariamente, em falta de qualidade de ensino. Muitas vezes, a tecnologia é utilizada para fazer, de outro modo, aquilo que já se fazia anteriormente. Por outro lado, a tecnologia e os suportes midiáticos representam a possibilidade de constituir a base de um processo de construção coletiva de conhecimentos.
Hoje, quando os suportes digitais tendem a ocupar o lugar de tecnologias tradicionais, há uma oportunidade para repensar aspectos constitutivos da educação, como a necessidade de que o conhecimento seja construído coletivamente, em colaboração com outros campos de conhecimento, numa relação de transdisciplinaridade, de diálogo entre os diversos campos do saber.

Livro didático: do impresso ao digital

“É certo que a escola é uma instituição que há cinco mil anos se baseia no falar/ditar do mestre, na escrita manuscrita do aluno e, há quatro séculos, um uso moderado da impressão. Uma verdadeira integração da informática (como do audiovisual) supõe, portanto, o abandono de um hábito antropológico mais que milenar, o que não pode ser feito em alguns anos”, nota Pierre Lévy (As tecnologias da inteligência. São Paulo: Editora 34, 1993. p. 86).
O MEC e o livro didático
O Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), do MEC, investiu, em 2012, R$ 1.326,50 bilhões na compra, avaliação e distribuição de 160 milhões de livros didáticos. Este investimento nos faz compreender o enorme volume desse produto didático que circula e entender o porquê desse segmento editorial ser um campo privilegiado e disputado entre as maiores editorias, certos de terem um grande número de leitores garantidos e regulares nos vários municípios do país, que apresentam muito realidades distintas (Fonte: FNDE).
O governo federal, por meio de iniciativas como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), parece estar tentando amenizar o atraso da escola pública ofertando-lhe versões digitais de obras didáticas. Há uma tentativa, por parte do governo e do setor privado, de levar a tecnologia para as salas de aula, não apenas como objeto de estudo, mas como ferramenta de aprendizagem.
Nos últimos anos, temos visto a necessidade de elaborar e/ou produzir recursos didáticos que não sejam aqueles já veiculados pelo suporte impresso. Muito se tem falado sobre o avanço das mídias digitais como recurso para o desenvolvimento da qualidade do ensino no país. Entretanto, a mera substituição do suporte impresso por recursos digitais parece não proporcionar, por si só, a melhora na qualidade do ensino.
Os conteúdos tradicionais das áreas do conhecimento precisam ser repensados para atender a uma nova realidade tecnológica a que os alunos estão expostos diariamente, mesmo aqueles de áreas mais carentes de nosso país.
Considerado ainda como o mais importante recurso didático no país, o livro didático, é, muitas vezes, o único livro que algumas pessoas têm acesso durante a vida. Tradicionalmente, o governo federal realiza iniciativas, por meio do Ministério da Educação (ver box), voltadas ao livro didático e, agora, também, de estímulo à produção e uso de suportes midiáticos digitais.
Mas será que isso tem dado certo? Os professores estão conseguindo se preparar para a inserção do material didático digital nas salas de aula e a utilizá-lo de forma adequada e verdadeiramente didática? Do ponto de vista pedagógico, qual tem sido o maior desafio para aliar recursos digitais e conteúdo pedagógico? Como tem sido a demanda por elaboração de recursos digitais atualmente?

As opiniões de especialistas

Para responder a essas e outras questões, foi realizado um encontro no dia 4 de abril de 2014, no Auditório Paulo Emílio, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, com as convidadas Silvana Rossi – pedagoga, autora de livros didáticos e editora – e Dora Murano – sócia-proprietária da Murano Design, empresa que se dedica a soluções de design de materiais educacionais.
Ambas as palestrantes abordaram os caminhos e o futuro do material didático frente às inovações tecnológicas e a migração de conteúdos para as mídias digitais. Silvana Rossi contou sua trajetória na produção editorial, iniciada em 2005. Apresentou sua biografia pessoal e profissional, como autora e editora de livros didáticos, mas diz não acreditar em livros didáticos. Segundo ela, “livros didáticos são para escolas e professores que precisam de apoio”. Em sua opinião, os professores não estão preparados para o uso dos livros digitais. E Dora…
Leia, a seguir, a síntese da entrevista realizada pelos alunos Alexandre …, Edgar, etc. da terceira turma do curso de Licenciatura em Educomunicação.
Paulo: O livro digital surgiu por conta de um avanço na tecnologia na sociedade nas ultimas décadas. Como você tem visto o tratamento dado aos conteúdos tradicionais no ensino em relação aos formatos digitais?

Silvana Rossi, autora e editora de livros didáticos
Silvana Rossi: Bom, vamos entender o que é um conteúdo tradicional. A editora lança, pelo menos, de dois a três projetos inovadores toda vez que a gente reformula ou cria novos projetos. Esses projetos tendem, nós sabemos disso, a vender muito pouco. Não tem mercado para eles. O que vende é o conteúdo tradicional. É muito importante entender isso, porque não é a editora que produz uma reprodução tradicional, é a editora que atende um mercado que não muda. Porque o que a gente lança novo não vende […], resiste o tradicional; porque nós temos um professor mal formado, resistente à mudança e que não está preparado para fazer trabalhos com projetos, sequências didáticas, trabalhos com reflexão, situações problema, construções pela competência do aluno, porque ele não manipula bem esta forma de trabalho ainda. E o material digital só reflete isso. Então, como transformar um material com conteúdos tradicionais, o mais interessante, possível para este aluno, que pede coisa nova, mas tem um professor que ainda não abre essa porta para ele? É isso que a gente vive. Onde a gente percebe isso muito claramente? Quando eu faço palestra, e levo coisas novas, as professoras falam: “Ai, é lindo, bacana; mas não funciona em sala. Não dá, as crianças não têm jeito.”. […] Então você vê uma resistência real. Entendam que é normal, é do humano. Mudar é difícil. E, a escola, eu afirmo, é uma das instituições mais difíceis. […] Então, sobra para a gente pegar o material que é tradicional, com uma distribuição linear, com uma progressão gradual, organizado numa escola seriada, em que todos têm que fazer tudo ao mesmo tempo, no mesmo momento, na mesma hora, com aquela mesma pegada; o mais dinâmico possível, ter vários recursos para tentar atingir pessoas diferentes e formatos diferentes. […] Quando o governo nos pede “façam coisas com projeto…” a gente faz, mas vai pro mercado e não vende, só vende para o governo. Aí o governo compra e recomenda. Os professores da área pública não adotam. O livro não decola e, na próxima produção, ele tá cortado. E isso é uma coisa que a gente assiste repetir, repetir, repetir… e ainda é uma situação real. Então, o livro digital só vem transformar um pouco mais dinâmico essa linha do tempo que você viu há quarenta anos atrás. Essa é uma resistência do currículo nacional, e a gente não consegue quebrar.
Cereja e Saraiva

Explicar quem é esse autor e sua relação com a discussão.

Alexandre: Silvana, em função do que você respondeu, de que a escola e a comunidade escolar têm uma demanda por materiais mais tradicionais, eu vou falar do ponto de vista de um professor, que não gosta de material didático, por isso eu não uso, a minha escola me deixa livre para fazer meu próprio material. Mas eu penso, por exemplo, na Editora Saraiva, vocês têm o Cereja, que é a cereja do bolo, literalmente, no PNLD. Ele também não teria um papel importante, no sentido de desmitificar esse ensino mais tradicional e inserir isso no livro dele. Por que é sempre mais do mesmo, né? Então, nesse sentido, parece que há uma relação muito vertical, e a gente podia horizontalizar. Parece-me que as editoras decidem, os professores querem isso mesmo… mas me parece também que não existe um esforço da parte contrária. Se o Cereja começar a inovar e as escolas o tomarem como um parâmetro, será que não é esse o caminho para a gente pensar numa reestruturação do material didático?
Silvana Rossi: Não vou falar em nome do Cereja, por uma questão ética, mas vou generalizar. Óbvio, os autores têm responsabilidade sobre as proposta que eles trazem para o mundo. Se eu não sou responsável pelo que escrevo, sou responsável pelo quê? Como autora, eu te digo: sim, eu sou responsável. Mas, existem limites na negociação com a editora pelo investimento, é obvio. Infelizmente ela é uma empresa. Se ela estivesse ligada a uma fundação, a uma ONG, teríamos outras oportunidades. Os passos são pequenos, mas posso te dizer da minha história com o meu emprego. Quando eu fui para a editora, eu era professora, uma coordenadora e diretora de uma escola que só trabalhava com projetos e oficinas multi-seriadas. Me conheceram fazendo trabalho de letramento e alfabetização  com crianças do maternal ao quarto ano, juntos. E quem dava aula para o maternal sobre flutuação, eram os meus alunos de química do ensino médio. E essa era a escola que eu administrava. Era uma delícia. O pai tradicional suporta essa escola? Não. O pai que tá preocupado com o vestibular para entrar na Poli comporta uma relação mais humana assim? Não. Era muito comum os alunos ficarem na escola até o começo do ensino médio e “vazar”, porque tem o vestibular. Então têm estruturas dentro do mecanismo, da avaliação, da organização e da educação, no Brasil que não mudam. Você fez vestibular, eu fiz vestibular, quem é mais velho fez vestibular e não muda. Não tem mais sentido tudo isso, e não muda. A gente não consegue criar outro sistema de avaliação. Então tem barreiras, que chega uma hora e você fala: memoriza, filho, você vai precisar. Que droga. Mas é verdade, se não você não entra na USP. E essas barreiras estão em todos os lugares. Estão aqui, estão na escola tradicional. Então eu digo: sim, nós autores temos e gostaríamos de fazer coisas maravilhosas. Eu tenho um projeto escrito há três anos e meio, que eu não vejo mercado ainda para comprar. Porque eu não sei quem vai bancar aquilo. Porque ele é tão inovador que você poderia escolher a página que você quer dar nesse dia, num banco, numa plataforma. Só que, e daí? Quem vai bancar? As coisas levam um tempo para amadurecer. E, infelizmente, a escola é uma instituição difícil para essa tendência.
Laura: Você falou de tendência de mercado, mas que a escola ao mesmo tempo tem uma resistência á mudança. Você falou que existem tendências de mercado na área da educação. Quais são essas tendências de mercado? É o material tradicional?
Silvana Rossi: O que eu diria sobre tendências? A gente olha para o mercado e tem vários recortes. O recorte padrão de qualquer empresa é o econômico: quanto você gasta, que escola é essa, que padrão econômico é esse, que alunos você atende, qual é a clientela. Essa é a segmentação mais padrão em qualquer empresa. Isso hoje dá um recorte muito enviesado, principalmente num pais como o nosso. Com uma classe C com poder de dinheiro que uma classe média não tem. E uma classe C com intenções de cultura e oportunidades que não tinha há seis anos. Então, recortar ainda dessa forma é não ver uma tendência. Então hoje usamos dois recursos: um com certeza é a segmentação de mercado. Onde eu segmento pela minha intenção de proposta pedagógica. Se eu vou para uma proposta muito inovadora, eu tenho que recortar e ler este mercado com este segmento. E, portanto, eu adapto minha segmentação do produto. E o produto nasce para atender determinados segmentos. E eu leio a penetração dele no estado, na região, na escola, particular e pública. E aí eu faço uma fatia, que não é monetária, não é econômica. Porque se não ela é sempre a mesma tendência: classe A, B e C. Você já ouviu isso em vários lugares, seja para comprar televisão… Essa é a segmentação mais tradicional, hoje em dia não se pode mais olhar assim, principalmente no olhar de cultura e educação. Nós temos algumas tendências diferentes nisso. Então, quando eu digo da resistência do professor, da resistência da área educacional – e eu estou falando de mim, eu sou professora, não sou editora – eu raramente me chamo de editora, eu digo que eu “estou editora”, e por um tempo, não sei o quanto eu aguento essa cultura do risco, da inovação, da busca de caminhos diferentes, é de um bom professor, que tem uma boa formação. Este cara não precisa de livro. Tudo bem? Não precisa. Usei livro na minha vida profissional por dois anos. Os primeiros dois anos, e depois nunca mais usei. Nunca usei, e hoje escrevo livro didático. Não deveria nem saber o que é livro, eu nunca usei! Mas eu entendo o que é um professor e que anteparos eu devo dar a ele, para que ele consiga rodar o conhecimento que ele não maneja, não manipula. E, portanto, o livro didático é um recurso possível. Têm outros. Têm vários. Todo curso de letramento e alfabetização que eu dou na prefeitura do M’boi Mirim não tem um único livro didático. E eu tenho 78 horas de curso lá dentro. Mas isso não quer dizer que eu vou conseguir com que os professores o façam. Ganhar ponto, ganhar bônus no salário… pode ser que ela nem está interessada no que eu vou falar, o fato dela estar lá, ela já ganhou pontos. Então tem muita coisa nesse meio educacional que recorre de interesses políticos, recorre de interesses financeiros. E vocês não podem esquecer nunca: a secretaria mais rica em qualquer município se chama Educação. Nós temos muitos economistas na área, pouquíssimos educadores. Isso é um fato.
Edgar: Dora, a gente, nos preparando para o trabalho, em uma das discussões que a gente sempre tem dentro do grupo, é da questão pedagógica dos materiais. Simplesmente ter mais um material à disposição, pode não ser mais alguma coisa e, simplesmente, ser só mais alguma coisa. E a gente se perguntou: para quem trabalha diretamente na confecção desses materiais, qual o maior desafio para transportar o conteúdo pedagógico e qual o tamanho da liberdade que quem faz o material tem para transportar esse conteúdo pedagógico para uma nova plataforma, uma nova ferramenta. Há essa liberdade? Se há, como ela funciona? E como funciona esse desafio de levar uma coisa para outra.

Dora Murano, produtora de materiais educativos
Dora Murano: O roteiro parte do editorial. O editorial e o autor eles definem qual é o roteiro. Só que por enquanto, estou realmente querendo fazer essa aproximação. Às vezes, a pessoa que faz o roteiro não sabe de qual discurso pode dispor. E às vezes também fala menos a linguagem, não manipula tão bem as possibilidades. Às vezes eu olho o roteiro e penso “hum, podia fazer diferente”, mas existe um distanciamento. Não falo direto com a pessoa que está criando. Existem intermediários, e também acontece assim: trabalhar com livro didático é muito complicado, é tudo pra ontem. São prazos estrangulados e, todo mundo – vou reclamar um pouquinho – é assim… O pessoal faz o impresso, e o impresso atrasa, e quando chega na hora de fazer o digital, tá todo mundo com muito serviço, e pouco tempo. Então é assim, tipo: resolve, faz! Muitas vezes eu tomei a decisão de falar “puxa, eu precisava discutir esse roteiro, porque não dá para fazer desse jeito”, eu acho a solução, apresento e falo: “é o que é possível”, porque não dá nem tempo de fazer essa discussão. Sonho com isso, eu sonho muito. Eu estou trabalhando num projeto hoje, que eu estou querendo fazer assim: a gente trabalha com roteiros multidisciplinares e a proposta é de que cada roteiro tenha um pedagogo do lado, discutindo as razões daquilo. Porque usar um jogo? Que tipo de recurso eu vou usar para aquele conteúdo? Vou usar um vídeo? Mas ter essa chance de discutir e ter um engrandecimento mútuo. Eu quero ver como o educador fala isso pra mim porque eu estou do outro lado, eu estou do lado do design, da programação. E eu sinto muita falta de ter a discussão com quem lida com a educação, com quem lida com o processo. Eu acho que a gente faz o que dá conta de fazer. Da oportunidade que a gente tem. A gente tem sonho e tem vontade de fazer. Mas nem sempre realidade é tão generosa. Muitas vezes a gente tem que fazer o “pra ontem”, e a gente se vira com o que tem nesse momento.
“Quando a gente produz material pro governo, pra área pública, quem dita o caminho é o edital. E o edital sai, e nós temos 120 dias para entregar.”
Silvana Rossi
Silvana Rossi: Tem uma informação que não sei se vocês sabem. Quando a gente produz material pro governo, pra área pública, quem dita o caminho é o edital. E o edital sai, e nós temos 120 dias para entregar o que eles pediram, seja o que for. Então, prazo é uma coisa ensandecedora (sic). Eu trabalho em média 14 a 15 horas nesses períodos, pra dar conta. E nos últimos dois meses, em torno de dezessete, pra dar conta e fechar tudo que eles estão me pedindo. É insano. Não é o editorial, é o Governo que acha que em 120 dias você faz livro, pdf interativo com objeto digital, manual do professor formativo para garantir que ele consiga aplicar isso com todos os recursos. É fácil, não sei qual a dificuldade. Mas nós fazemos, em 120 dias.
Luciana: Dentro de todas essas demandas ainda tem a questão acessível, como é que anda?
Silvana Rossi: […] Nós gostaríamos muito de fazer um material de qualidade para a área de inclusão com possibilidades normativas para isso. Mas o investimento para essa área é muito pequeno. As possibilidades que o Governo abre, são parcerias organizadas por ele, com fornecedores que têm garantia que vão ter aquele serviço. Portanto, qualidade não é a coisa mais fácil para garantir. Eu olho hoje e falo: entre não ter nada, como nós tínhamos há oito anos, e ter algo, é bom. É melhor que nada, mas isso ser de fato a melhor opção e a adequada para as crianças que precisam do trabalho de inclusão: não. Não tá nem perto. Nos últimos seis anos que eu estava na direção da escola, eu tinha um projeto de inclusão. E tinha em cada sala 4 crianças com inclusão, e tinha uma equipe treinada para isso. Foi a melhor coisa que eu fiz na minha vida, nunca aprendi tanto. Mas não é fácil, é um exercício de estudo muito grande. Minha equipe inteirinha teve que reformular. E até entender que a inclusão é de responsabilidade de todos, leva muito tempo. E quando eu digo “todos”, não digo o professor, o diretor… É todos: o faxineiro, todos o amigo que sentam ao lado, o cara da portaria que abre a porta quando o cara entra. É todos, não interessa se a criança precisa de rampa, não precisa de rampa, se enroscou, se está no banheiro e não deu conta, não interessa. Quem tá do lado que ajude. Até a comunidade entender isso, até a comunidade incorporar isso, levou muito tempo dentro da escola. Até o governo entender que ele tem crianças que precisam de apoio dentro da sala e se responsabilizar disso, e treinar os professores pra isso… eles não tiveram o menor treinamento para o que foi aceito dentro da sala de aula, então eles ficam encostado. Isso é um fato. Posso falar na área de alfabetização, que as minhas professoras dizem: eu não sei o que fazer para ajudar. E você dá aula, dá texto para trabalhar e começa a ver a pontinha do iceberg. Mas uma pessoa não começa a alfabetizar uma criança com paralisia cerebral em seis meses. Ela tem muito a estudar para isso. Então vai passar essa criança, a fila vai andar e ela não vai ajudar. Então ainda não é uma realidade para as escolas públicas. Eu conheço pouquíssimas escolas, de nível particular, caríssimas, que fazem um bom trabalho. Pouquíssimas, não enchem duas mãos.
Luciana: Como tem sido o retorno? Se os professores e alunos auxiliam também nas reformulações dos trabalhos, dos produtos, das coleções didáticas. Que retorno vocês têm desses públicos? Isso influencia diretamente nas produções?
Silvana Rossi: Com certeza. Têm vários recursos para isso. Na verdade, alguns projetos especiais dentro de uma empresa são monitorados durante todo o processo de uso dele. Eu tenho informações, a cada seis meses, atualizadas sobre todos os professores adotantes. Não foi uma coisa fácil de construir, a gente acaba montando uma comunidade pelo site. E ele tem trocas de gentilezas entre escolas que usam o material e a gente que, na verdade, a assessoria vai, mas trás informação para o editorial. Não são todos os projetos que a gente consegue esse monitoramento. Tem algumas áreas de pesquisa, tem algumas áreas de ibope mesmo, que a gente acaba pagando para levantar algum documento, alguma informação. Mas se o professor não participar, reformula para o que eu acho bonitinho? “Ah, eu acho bonitinho assim, não tô usando”. Sim. Com certeza a gente tem que voltar para o campo para entender como foi o uso. Não é um trabalho fácil para fazer. Nada fácil, eu diria. Principalmente com um país tão grande, entender a capilaridade… Estado que ele entra, o município que ele entrou, porque ele entrou em todos os municípios e nesse aqui não? É difícil entender. Precisa muito ir pro campo pra entender. Eu viajo todos os anos, no mínimo nos doze principais estados do país para ver como os livros estão rodando lá.
Alexandre: Você disse que viaja para saber da aceitação do material e tudo mais. Eu queria saber se existe no material didático com que vocês trabalham algum de recurso aberto, de modo que essas regiões possam contribuir para que esse material seja, de fato, mais relevante para cada lugar em que ele é adotado.
Silvana Rossi: Sim, os projetos principais têm sites únicos para o projeto. E eles têm, não só uma área de blog, como de apresentação dos projetos das próprias escolas que usam, como comunidades de troca, em que eles podem socializar em fóruns, como eles podem trocar experiências, mostrar fotos dos alunos. Toda essa realidade existe. A nossa intenção de ir a campo, acima de tudo, fazer algum a momento de formação pedagógica, ou seja, eu não vou lá para dizer: como é que tá indo? Tá usando o meu material? Que bonito! Não, não é essa a intenção, na verdade eu vou dar alguma etapa de formação que eu considero importante, até pensando na reformulação. Quando eu já tenho alguma ideia do que eu quero fazer, ir para o campo com alguma palestra, alguma oficina, é uma forma de captar se o publico tá pronto para esse passo que eu quero dar, é captar como eles sentiram o que eu coloquei lá, se a dose foi boa, ou não foi. Mas, esses projetos principais a gente tem, assim, as coordenadoras e diretoras trocam muito e-mail com a gente, muito. Pedindo ajuda, pedindo para preparar reunião pra pais. Acaba criando uma relação muito boa. Não são em todos os livros, não tem como. Se eu pensar hoje, no meu catálogo, na minha editoria, exclusivamente, eu cuido de cento e sessenta livros, mais ou menos. Quer dizer, não dá para você ter proximidade com toda essa clientela. É muito difícil. Mas com os projetos principais a gente investe muito nisso, sim.
Paulo: Dora, em relação à sua equipe de trabalho, da sua empresa, que tipo de profissional faz parte da sua equipe? Que tipo de pessoa está envolvida nesse trabalho? Porque a gente está no curso de Educomunicação, que tem uma formação muito pesada em estudo da mídia, de comunicação, de manipular as tecnologias. Talvez, se na sua opinião, esse trabalho que vocês estão tentando desenvolver, porque você falou “a gente também queria ter o diálogo, para entender o que é exatamente para fazer”, se não seria um mercado de trabalho para quem está se formando nesse curso?
“O que influencia mesmo é o jeito de a gente falar do aluno hoje: você não precisa dar conteúdo, você precisa incentivar a criatividade, você precisa incentivar o interesse.”
Dora Murano
Dora Murano: Eu sou muito fã das minhas crias, das minhas filhas. Vocês viram que elas são persistentes, né? Assim, tem muita gente com o perfil de designer ali, mas o que pega mais é a versatilidade, é ter um olhar de conjunto. Ter um interesse. Eu vejo que, às vezes, você pega um pessoal que trabalha com programação, e que eles não se interessam por educação. Às vezes, é mais pelo perfil, de personalidade, de interesse geral que eles têm, que me cativa para manter. Porque tudo eu ensino, e o tudo o grupo ensina para todo mundo. Eu sou designer. Ela [apontando] faz Belas Artes mas aprende html, aprende css, e aprende muito mais. E aprende as questões de projeto pedagógico, e todos os termos modernos de educação a gente estuda e se esforça muito para entender essa linguagem toda. Nem sempre a gente tem as oportunidades que a gente gostaria. Mas da nossa parte, a gente pega o objeto e fala assim: “eu uso, sou usuário”. São todos jovens, então eles questionam, eles discutem como que o aluno vai lidar com isso? Às vezes, tem uns quebra-pau lá: “não, imagina, isso vai ficar chato, vai ficar fazendo nextnextnext.”. Tem varias discussões. Às vezes, a gente tem que cortar, mas quando eu posso eu dou conta. E eles são muito criativos. O que influencia mesmo é o jeito de a gente falar do aluno hoje: você não precisa dar conteúdo, você precisa incentivar a criatividade, você precisa incentivar o interesse. Então, o que eu observo bastante, é que esse pessoal meu tem. Essa vontade de fazer e pensar no aluno que tá fazendo, e discutir… porque o resto tudo, tem no Google. Sabe, tendo a inteligência, a capacidade de processar a informação, busca, a gente acha. Como é que faz isso? Tinha um rapaz que trabalhava comigo, que ele falava assim: “isso não dá para fazer, impossível”, daí ele ficava meio emburrado e daqui a pouco ele falava assim: “aqui a gente dá um jeito assim… eu já fiz!”. Mais ou menos assim, porque vai buscando caminhos, tem fontes para buscar. Eu acho que é isso, é essa coisa de ser criativo, de ser apaixonado, de gostar do que faz, de estar motivado. É isso que eu acho mais marcante nas pessoas que eu consegui conquistar para trabalhar comigo.
Edgar: A gente está num curso que procura estabelecer relações entre meios de comunicação, novas possibilidades educativas, para romper com o paradigma tradicional educacional, e coisas do gênero. Contudo, há um discurso muito apropriado pelas escolas, especialmente as particulares, mas não só por elas, de que a introdução de tecnologia dentro da escola vai salvar a educação, ou vai resolver boa parte dos problemas. Isso eu posso dizer por experiência prática e que, a gente, infelizmente percebe alguns entraves. Eu gostaria de saber de vocês de uma maneira mais objetiva, do uso da tecnologia na sala de aula. A tecnologia para vocês é um acessório? Ela é algo que pode substituir alguma coisa? Ela é algo inevitável? Ela e só mais um meio para tentar chegar no aluno? Ou ela tende a ser a base de todo o processo educativo?
Dora Murano: Eu sempre trabalhei atendendo o desejo do editor. O designer tem que complementar, mas o importante é o conteúdo, é a intenção do autor, a intenção pedagógica. Então hoje quando eu faço eu penso nisso: qual a intenção do conteúdo? Então, eu forneço ferramentas, eu instrumentalizo para que aquilo aconteça. A tecnologia, para mim, só tem sentido mesmo, assim, ela é instrumento para possibilitar. dá para fazer algumas coisas, ajuda. Mas o que fundamenta mesmo é o conteúdo, é a ideia pedagógica toda. O que você pensa? Como você quer formar esse ser humano? Como você quer formar ele como cidadão? Qual o pensamento crítico que ele tem?  Eu, por exemplo, estou pensando numa plataforma, aí eu penso assim: “vou medir quanto ele repete, sabe, aquela métrica só de quanto ele repete aquele exercício, de quanto tempo ele fica com aquele exercício”. Legal, talvez para coisas decoradas em inglês, sei lá, pode funcionar. Mas não é assim que eu penso. Eu penso, assim, em dar ferramenta para outro tipo de abordagem, para você conseguir acompanhar mais de perto o trabalho daquele aluno. Tem coisa que você tem que ler o texto, tem que ver o raciocínio. Então, às vezes, você ter acesso à produção dele rapidamente, você conseguir ter essa organização, ajuda muito a você ter controle. Então você trabalha com roteiros, a criança escreve. Você saber que ela escreveu, o que ela produziu hoje e você conseguir ler rapidamente, é uma coisa que funciona no dia a dia, mas você tem que ler, vai ter que olhar para a criança. Então, acho a tecnologia agiliza, como agiliza uma porção de aparelhos que a gente tem, mas o que funciona, o que eu entendo mesmo, é o projeto pedagógico quando você entende, e a gente fica aqui, a serviço. E a tecnologia fica a serviço de quem realmente tá pensando a pedagogia.
“Quanto mais formas nós encontrarmos para acessar mais pessoas, atingirmos diferentes, com níveis diferentes, melhor.”
Silvana Rossi
Silvana Rossi: Toda vez que alguém me pergunta isso, eu tenho uma analogia, horrorosa, mas que simplifica muito: namorar no Skype é bom? Mas não resolve, né? Eu sinto isso: namorar no Skype é bom, mas não resolve. Não, não acredito que vai salvar a educação. É um ótimo recurso, acho que é um recurso que a gente atinge a distancia. E isso num país tão grande é muito importante. Nós temos, realmente, muitas áreas sem acesso. Ainda é uma realidade muito forte no nosso país e, entender que numa escola o cara leva seis horas para andar, para chegar na escola mais próxima, é uma loucura. Mas é real, é concreto. Então, quando a gente produz material para o campo e você vê que essa criança demora no mínimo duas horas para chegar na escola que ela vai estudar e volta duas horas, você fala: puxa, livro é bobagem, né? Vamos falar sério? É muito difícil, é bem complexa nossa realidade. Mas, Eu diria uma coisa: quanto mais formas nós encontrarmos para acessar mais pessoas, atingirmos diferentes, com níveis diferentes, melhor. Nós temos muita diversidade. Eu sou muito diferente, você é muito diferente. Provavelmente você fica no computador tantas horas, eu odeio computador, porque eu passo o dia na frente daquela porcaria. Então tem horas que eu não quero mais olhar pra aquilo. Eu odeio celular. Todo mundo fala: mas não… Gosto, eu passo o dia inteiro, ligo o dia inteiro, passo e-mail, chega a noite eu faço “ploft” no final de semana você fala: “não te acho!”. Ótimo, que bom pra mim, fico tão feliz… porque tem coisa que tem vantagens e desvantagens. Dependendo do quanto você manipula aquilo, chega uma hora que dá “boring”, dá “bleh”, que não quer chegar perto. Se a tecnologia tiver o mesmo uso, uso até desgastar, não adianta, vai dar boring. Aquele jogo que você joga, joga até desgastar, chega uma hora que não adianta, você fala: chega, trás outro. Então eu não vejo um único recurso, uma única forma, um único caminho. Acho que nós precisamos dessa diversidade, sim. […] Quando o governo diz “todo mundo assim, para este lado”, eu falo “pronto, vamos fazer um enlatado em série, agora”. Porque é isso que acontece, cria-se um enlatado. Porque se investe tanto para não correr o risco de não ser aprovado e isso tem um custo sério. […] A gente tem vivência que você fala: fiz quatrocentos objetos digitais, passaram cento e cinquenta. E você fala: “uau, onde foi esse investimento?”. Pra caixa! Então, é uma área muito nova, em que as pessoas não sabem muito o que querem, e que o pedido não é claro, ou que ele é tão fantasioso de atingir a tudo que você fala assim: “cara que produto é esse, que tem que rodar no mais e no mínimo? Descaracteriza, não tem qualidade, você abaixa o nível, você não consegue atender com tanta qualidade. Não é bom. Para a gente não é bom. Nós gostaríamos de fazer coisas muito melhores, de fato. A gente tem projetos pilotos rodando dentro da editora, que você fala: “hum, é isso que eu queria fazer o dia inteiro”. Mas não, ele ainda leva dez anos para sair no mercado e chegar até vocês […]. Mas é importante, daqui a pouco eu tenho maior diversidade, maior relação para conseguir produzir. Sou eu com meus livros, como autora. Eu escrevo, escrevo, escrevo e falo: “nossa, ficou lindo, mas ainda não dá para vender, vamos aguardar um pouco.” E tudo bem, daqui a pouco tem mercado para isso. E, que bom, o meu já tá escrito, tem lá um projeto, na hora de vender fica fácil… Mas não dá, é uma coisa amorosa, é uma coisa que leva um pouco de tempo. Mas acima de tudo tem uma coisa que eu quero defender: qualquer, qualquer iniciativa que melhore a qualidade de educação para nossas crianças brasileiras, eu aposto. Qualquer. Se você disser que vai botar um ônibus rodando no pais, eu topo, vambora. Se for um bom movimento, eu topo. Nós estamos precisando de tudo.
“Livro pra mim é o conteúdo. Eu acho que não acaba nunca. Não tem como acabar. Agora, papel…”
Dora Murano
Edgar: Eu também trabalhei como designer, eu fiz um técnico em artes gráficas. Ao entrar no ensino técnico, eu ouvi a seguinte frase: o livro vai acabar. Isso faz vinte anos, e eu continuo dando aula com livro. Eu queria saber de vocês, para encerrar essa nossa proposta, que era de falar tanto do livro físico, quanto dessas possibilidades de inovação, em que ponto vocês acham que vai haver uma convivência saudável e duradoura entre esses dois suportes? Se de fato um deles está fadado a acabar? Se ele vai acabar, o digital vai fazer às vezes do que hoje é o papel?
Dora Murano: Bom, o que é livro, né? Livro pra mim é o conteúdo. Eu acho que não acaba nunca. Não tem como acabar. Agora, papel… bom, pode ser que a gente consiga… eu, por exemplo, já prefiro ler o digital. É fácil, tá sempre comigo, a hora que eu posso ele tá lá. Então eu já compro os digitais. E, a gente fala da “internet das coisas”, né? De repente vai estar impresso na latinha, no chão. Pouco importa o suporte, o que importa é o conteúdo. Vai ter milhões de coisas para passar esse conteúdo. Que diferença faz? Eu acho que não é a discussão mais importante. Comercialmente? tá… mas como ela falou [Silvana]: “não dá de um jeito, a gente faz de outro”. A gente sempre se adaptou na história toda.
Silvana Rossi: Eu não acho que o livro vai acabar tão cedo. Meu chute é que, no mínimo, nos próximos vinte anos nós vamos falar de livro, vamos falar de livro, vamos falar de livro… Esse livro didático, principalmente, acho que o livro de lazer, de prazer, de literatura, migra muito antes do que o livro de estudo, por questões características da estrutura. Eu leio qualquer coisa no digital, menos literatura. Literatura, eu preciso do papel, é afetivo. Se olharem no meu coiso (sic) eu tenho um monte de coisa digital, e um livro de literatura. Não sei explicar, é assim. Uma biblioteca cheia de livro e um computador enorme de coisa de estudo. Preciso do papel para a literatura. E tem que lembrar que o livro é uma tecnologia muito elaborada. Se voltar para a história da construção do livro, se voltar para a tecnologia da imprensa, isso tem muitas pegadas na humanidade. Então não vamos fazer essa transição tão rápido. Não porque eu não acho interessante, quero mais é que um professor não precise de um livro didático, isso quer dizer que todos são bem formados. […] Mas não vejo isso com tanta rapidez, até porque, desculpa, não vejo a universidade avançando do jeito que gostaríamos. Mas é um fato, a gente tem acadêmicos isolados, trabalhando em movimentos diferenciados. Mas a gente não vê a academia apostando em pesquisa, em polos de estudo, em núcleos de formação. Não vejo, não reconheço. Você tem um monte de fundação e ONG, apostando nisso. Mas e o governo apostando nisso? A academia? Não vejo. […] Basta ver o MEC. Se você entrar nas bolsas que o MEC oferece, está ligada a Ciência e Tecnologia. Não está ligada a Educação e Cultura. O governo está me dizendo que isso não é importante. Apesar dele estar quebrando a cabeça pra conseguir alfabetizar. Isso é uma tendência, é uma mensagem. Por isso eu acredito que isso deveria ser um tema muito, muito conversado. Se pensarmos no nosso pacto de dez anos, nós conseguimos avançar 0,5% na média nacional de alfabetização. Nós estamos com o pacto dos próximos dez anos construídos com 70% das metas que nós não atingimos nos últimos dez anos, atingimos 30%. Tem muito o que fazer pela educação. O livro, se for um caminho, ótimo. Se for outro, nós vamos inventar. Confio muito na humanidade para isso. Nós vamos achar um caminho, mas tem muito o que fazer.
Laura: O professor Roberto Zular diz que é difícil encontrar na Letras alguém que pesquise o impacto dos suportes midiáticos, pois há certa resistência. Ele cita Robert Darnton: “não conte com o fim do livros”.
Silvana Rossi: Eu não acho que é uma resistência não, acho que, de fato, nós não temos um investimento focado. Pesquisar pra que? Se ninguém paga e ninguém compra? É fato. Quem é pesquisador e vive disso? Não tem outro emprego, outra função, que possa comer? Nós não temos e, se temos, são pouquíssimos no país, e todos ligados a indústria, a tecnologia e a ciência. Educação, não. Agora, você pega uma Fundação Carlos Chagas, até a Abrinc, que é uma associação ligada a empresa, tem negócios que você fala: uau, como boa vontade e dinheiro faz milagre, não? E é isso, até nas empresas que nós trabalhamos, os caras põem foco, põem dinheiro, e funciona. […] Então, eu fico muito brava quando o MEC diz: as editoras não fazem… e eu falo: puxa, eu adoraria fazer, tenho varias coisas que eu gostaria de fazer. Eles não comprar. E, se compram, compram o que eles querem. Nós temos produtos muito mais inovadores que eles querem, e a gente não tem como mostrar. Eu editei o primeiro projeto de música como material didático, há quatro anos. Está recomendado no MEC de educação, e eu não posso vender nas escolas públicas, porque eles não tem interesse. Aí você fala: um de nós é muito doido, certo? Tem uma lei para a área de música, a gente produz o material que o professor pode trabalhar na sala de aula, ele recomenda o meu material como um grande material de referência, mas não compra. Um de nós é muito louco. É um exercício, gente. É um exercício de ir ganhando uma folhinha por dia.

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