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Produção de Suportes Midiáticos

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Caminhos da Educomunicação – entre o presencial e o virtual

Énois e Cinemação na ECA

Diante do tema “Uso de suportes midiáticos em propostas formativas em espaços não formais”, recebemos, no dia 09 de maio de 2014, Marcílio Rocha Ramos (Cinemação), ao centro, de casaco preto na foto acima; Érica Teruel (Énois), à direita de Marcílio, e Harrison Ferreira (idem), ao lado de Érica. Nesse encontro, os convidados falaram sobre a experiência deles na área de educomunicação, expondo duas iniciativas que surgem na educação não-formal e que posteriormente trilham caminhos distintos, como se vê na sequência.

A Énois – Agência Escola de Conteúdo Jovem

A Énois é uma empresa surgida a partir da experiência de suas fundadoras na área do Terceiro Setor, e que tem como filosofia o protagonismo juvenil. Nina, uma das fundadoras da empresa, classifica-a como negócio social (ou pertencente ao setor 2,5), ou seja, uma nova maneira de organizar-se jurídica e economicamente sem que isso prejudique o foco social da iniciativa.
A iniciativa foi idealizada em 2009, quando as fundadoras da Énois, Amanda Rahra e Nina Weingrill, conheceram a ONG Casa do Zezinho no Capão Redondo, bairro da Zona Sul da cidade de São Paulo, e resolveram dar aulas de jornalismo para os jovens atendidos pela ONG. De uma oficina que duraria somente quatro semanas, surgiu a ideia da criação da Énois. Fundada oficialmente em 2012, hoje atinge vários jovens de 11 escolas da região, que recebem trimestralmente uma das revistas do projeto.

Vídeo com apresentação da Énois
Dentre as principais ações da Énois está a Escola Livre de Conteúdo Criativo, uma plataforma de ensino à distância que explica aos jovens os conceitos de jornalismo, design, cinema e tecnologia, que ajuda os jovens a compreenderem melhor o mundo que os cerca, ensinando eles a desenvolverem o senso crítico e também projetos de comunicação, como a criação de revistas, jornais, programas de rádios, dentre várias outras mídias. Também há a Agência Escola de Conteúdo Jovem, uma produtora de conteúdo jovem para todo tipo de plataforma que é feita por eles mesmos, ou seja, “de jovem para jovem”. Esse caráter de falar de igual para igual talvez seja o maior mérito do projeto, pois rompe-se com o paradigma até então predominante
Sobre a experiência com a Énois


Bruno Cissoto foi um dos jovens que teve a oportunidade de participar o curso online de videodocumentário da Énois (para acessar a plataforma do curso, clique na imagem acima). Ele é estudante de audiovisual e foi seu próprio professor quem recomendou o curso. A iniciativa mostra como suportes paralelos podem ajudar na educação formal. Para Bruno, que já participou de outros cursos online, dentre os diferenciais da Énois estão a linguagem, o formato e a dinâmica. Ele conta que este curso da Énois não possui aulas ‘certinhas’ e demoradas como nos outros. Isso mostra que nessa modalidade de ensino, muitas vezes, a aula sai do ambiente tradicional, mas não se adapta propriamente à nova plataforma.
Bruno elogia a objetividade e praticidade do curso. Diz que aprendeu muito sobre como estruturar um roteiro de documentário, como ir pra rua e diferenciar o roteiro de produção do esquema de montagem. Ele diz também que o ensino à distância tem que ser mais valorizado, porque é mais acessível e, caso seja de qualidade, pode ensinar mais e melhor que cursos presenciais.
A Énois faz parcerias com alguns meios de comunicação para produzir conteúdos juntamente com os jovens do projeto, dentre essas parcerias estão: a Cultura de Ponta, projeto com o Catraca Livre para divulgar o que ocorre de mais importante nas periferias como eventos culturais, oficinas e tudo que for gratuito ou de baixo custo; o Antena CBN, parceria com a rádio CBN em que dez jovens entre 13 e 21 anos produziam conteúdos midiáticos sobre suas comunidades; a Na Responsa, uma revista que fala sobre atitude, consumo consciente e uma variedade de assuntos relacionados ao público jovem e distribuída por 18 ONGs que trabalham com o Programa Jovens de Responsa; e por fim o Zzine, revista feita por jovens do Capão Redondo e distribuída para onze escolas da região, esses jovens também alimentam o site e as redes sociais dessa publicação. Atualmente, os projetos ainda em vigência são o Cultura de Ponta e o Na Responsa.
Além desses projetos, a Énois também faz a curadoria de contexto em que se desenvolvem pesquisas para marcas que querem criar um novo produto para o público jovem; institutos de pesquisas que querem mapear comportamentos; Workshops para campanhas publicitárias e de engajamento civil para o público jovem, grupos de discussão para debater sobre assuntos políticos; e insights para reforma de praças, escolas e espaços de lazer, tudo isso usando como principal ator os jovens.
Essa é a Énois, uma iniciativa que quer cumprir uma missão importante: falar de jovem para jovem – das periferias para o mundo. Em um espaço no qual os jovens criem um senso de coletividade e, assim, influenciem escolhas que promovam pequenas transformações no seu cotidiano, alterando não somente a sua comunidade, mas fazendo a mudança de toda uma cidade.

O projeto Cinemação

O Cinemação, projeto idealizado e conduzido por Marcílio, busca trazer uma visão teórico-prática da Educomunicação, trabalhando de forma performática com o uso de aparelhos celular na produção de curtas metragens. O Cinemação foi, em 2010, reconhecido internacionalmente como melhor projeto em mídia-educação pela Convocatória Nacional de Arte Educação, Cultura e Cidadania no Congresso Latinoamericano e Caribenho de Arte, realizado na Universidade Federal de Minas Gerais.
O Cinemação trabalha com cinco personagens teóricos principais: Glauber Rocha (1939-1981), um dos principais representantes do cinema novo brasileiro que, com seu conceito de “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, inspira o Cinemação para pensar em “uma ideia na cabeça e um celular na mão”; Célestin Freinet (1896-1966), que vinha com a concepção que a educação não poderia ser só dos conteúdos escolares, mas também o aspecto político e social da sociedade ao redor não podia ser ignorado pelos educadores, estes que deveriam criar várias formas dos educandos construírem seus conhecimentos; Jean Piaget (1896-1980), que fala do conhecimento não surge sozinho e se desenvolve a partir da relação entre sujeito-objeto; Paulo Freire (1921-1997), com a sua pedagogia em que o próprio educando construa seu o seu caminho na educação e não siga um já pré-estabelecido, e também a criação de uma escola mais popular, democrática e formadora de um aluno mais consciente social e politicamente; e por último, Patativa do Assaré (1909-2002), importante poeta e compositor nordestino e brasileiro que inspira o Cinemação por sua criatividade e improvisação em que fazia suas poesias e canções (Patativa guardava na memória suas obras).

Vídeo de apresentação do projeto Cinemação
Um dos principais pilares ideológicos que sustenta o projeto Cinemação é a questão de autorias coletivas, mostrando bem o seu caráter educomunicativo. Embora em sua organização haja alguém responsável por coordenar as ações, este sujeito não se sobrepõe aos demais participantes, trazendo uma criação descentralizada, em que todos fazem parte da construção.
Um dos processos utilizados é a Roda Dialógica, que coloca todos os integrantes do projeto em mesmo patamar de ideias, dando a mesma importância para qualquer um. É a partir deste contexto que irão se estruturar os projetos pelo grupo, tanto no campo das ideias como na execução do trabalho propriamente dito.
Nesta roda é discutido tudo que será feito para a realização do produto audiovisual, tendo como ponto de partida as palavras geradoras. Elas servem para demarcar os principais pontos que devem ser tratados, ajudando na criação das histórias que serão abordadas nos vídeos. É a partir delas que se inicia a construção da história, de como se irá contá-la.
Por conta deste processo descentralizado, o objetivo não é trazer um formato muito empacotado e pronto, mas algo que possa ser construído e ressignificado pelos participantes. A criação tem como origem primeiro uma imersão de todos no projeto para que, depois, deles emerja algo que possa contribuir na formação, criando um ambiente que favoreça a construção coletiva.

Aspectos educomunicativos

O mais interessante dessas duas iniciativas, como já ressaltado anteriormente, é que são projetos que surgem no âmbito da educação não-formal, local e em menor alcance, de acordo com as próprias possibilidades de ação de seus idealizadores. Porém, a medida em que se vê uma perspectiva de mudança na vida das pessoas envolvidas, surge a aspiração de expandir os conhecimentos ali trabalhados.

Com isso, tornam-se ótimos exemplos de cenários para atuação de outros educomunicadores, pois ambos os projetos trilham percursos diferentes – com a Énois centralizando seus esforços na educação à distância, e o Cinemação na construção de uma metodologia – mas sempre tendo em vista os preceitos educomunicativos de protagonismo, autonomia, cooperação e democratização do acesso à educação e da produção de comunicação.

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